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Nesta sexta-feira, 10, foi retomado o julgamento de Roberto Franceschetti Filho, ex-presidente da APAE Bauru, e de Dilomar Batista, ex-funcionário do almoxarifado da instituição. Ambos eram acusados e suspeitos de envolvimento na morte da ex-secretária executiva da associação, Claudia Regina da Rocha Lobo.
MANHÃ
O início dos trabalhos neste segundo dia de julgamento foi as 09h da manhã. Os advogados de acusação e defesa tiveram 2h30 cada para apresentar seus argumentos ao júri, buscando convencer sobre a culpa ou inocência de Franceschetti, acusado de homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver e fraude processual, com agravantes de motivo torpe, traição e tentativa de ocultar outro crime — supostos desvios de dinheiro, e Dilomar, que respondia em liberdade pelos crimes de ocultação de cadáver e fraude processual.
A sessão foi aberta com a fala do promotor de justiça, Alex Ravanini Gomes, que utilizou todo o tempo disponível para apresentar uma série de evidências ao júri. Entre elas, estavam imagens de câmeras de segurança, localizações de celulares, exames periciais e ligações entre os réus. O promotor se concentrou principalmente em provar que Franceschetti foi o responsável pelo homicídio. Durante sua explanação, destacou uma gravação de áudio entre os réus em que ambos discutem a queima do cadáver de maneira tranquila e descomplicada. Em um dos trechos, Roberto Franceschetti afirma: “precisamos tirar o orçamento” e, em seguida, menciona que seria necessário “tapar os buracos do telhado porque vai chover” no terreno onde o corpo foi incinerado.
Além disso, a acusação apontou que Franceschetti teria usado de vários veículos — pessoais e da APAE — para tentar despistar a Polícia e dar a impressão de que estava em outros locais. Outro ponto destacado foi que o acusado continuou a enviar mensagens para o celular da vítima após a eliminação do corpo. O advogado da vítima, Letícia Lobo, Alisson Caridi, também contribuiu para a acusação, destacando o papel de Dilomar Batista no caso. Caridi questionou a veracidade da versão apresentada por Franceschetti, levantando a hipótese de que ele não teria sido capaz de colocar Claudia Lobo no porta-malas de um veículo sozinho, dado o porte físico da vítima. O advogado sugeriu que mais alguém poderia ter ajudado no crime.
A defesa de Franceschetti, feita pelo advogado Leandro Pistelli, foi a seguinte a se manifestar. O foco da defesa foi a alegada falta de motivação para que Roberto Franceschetti cometesse o homicídio de Claudia Lobo, já que, segundo testemunhas, ela era uma pessoa de confiança e não havia qualquer desentendimento conhecido entre eles. A defesa também trouxe à tona detalhes sobre o passado de Claudia, incluindo relacionamentos com ex-namorados, alguns dos quais teriam trabalhado na APAE. Outro ponto levantado foi o fato de que o atual namorado da vítima teria recebido presentes caros e viagens pagas por ela, apesar de alertá-la sobre seus gastos excessivos.
A defesa também fez um paralelo com os desvios de dinheiro investigados na APAE, sugerindo que não faria sentido Claudia ter sido assassinada para ocultar esses desvios, uma vez que outras doze pessoas, incluindo familiares, estariam envolvidas no esquema. Os advogados de Franceschetti ainda questionaram a presença de vestígios de sangue, argumentando que isso não era suficiente para comprovar que um homicídio ocorreu. A perícia realizada pela Polícia no campo do Ditinho foi amplamente discutida, pois o laudo não conseguiu confirmar se os vestígios encontrados eram de origem humana.
O julgamento foi interrompido para o intervalo de almoço por volta das 14h05 e retomado às 15h20 com a tréplica dos advogados e do promotor de justiça.
TARDE
O promotor iniciou sua fala às 15h25, alertando o júri sobre uma preocupação manifestada por Roberto no momento em que Cláudia começou a se relacionar com Ismael, um delegado aposentado. A inquietação de Roberto estava ligada ao risco de Letícia, filha de Cláudia, descobrir irregularidades financeiras. Em uma ligação telefônica entre Letícia e Roberto, ele demonstrou preocupação e pediu que ela não comentasse nada com o namorado, reforçando a ideia de que havia algo a esconder.
O promotor apresentou um laudo pericial que comprova a presença de Roberto no Campo do Ditinho no dia 6 de agosto, por meio da localização de seu celular. Além disso, destacou registros de ligações entre Roberto e Dilomar naquela mesma tarde. Pouco depois de Dilomar chegar ao local, ele enviou um emoji de “joinha” via WhatsApp para Roberto, que então se dirigiu ao campo com o corpo de Cláudia.
O promotor também mencionou trocas de mensagens entre Roberto e Dilomar sobre depoimentos na sede da Deic, questionando o motivo de Roberto insistir em conversar com Dilomar naquele local. Ele sugere que o comportamento indica medo e preocupação por parte de Roberto. Às 15h30, o celular de Roberto se conectou ao Bluetooth do veículo que estava no Campo do Ditinho, fortalecendo ainda mais os indícios de sua presença.
Foram detalhadas as ligações feitas por Roberto para Dilomar e uma ligação de Letícia para Roberto, na qual ela perguntava sobre o paradeiro da mãe. O promotor afirma ter desbancado, com provas, todo o discurso apresentado por Roberto, especialmente em relação ao seu percurso no dia 6 de agosto. Também destacou que o sangue encontrado no carro Spin, conforme o laudo, pertence a Cláudia.
Segundo a acusação, Roberto matou Cláudia dentro do carro com um tiro no peito. Para tentar se proteger, ele contratou um perito particular com o objetivo de obter laudos divergentes dos apresentados pela perícia oficial, buscando invalidar os resultados que ligavam o cartucho da arma ao crime.
Durante a apresentação, o promotor reproduziu uma frase impactante dita por Roberto: “APAE é nossa! Não podemos perder a galinha dos ovos de ouro”, sugerindo um possível motivo financeiro para o crime. Em outra declaração contundente, o promotor disse: “Talvez, se ele tivesse ateado fogo no carro Spin, e não tivesse aparecido nas imagens de câmeras de segurança, ele ainda seria presidente da APAE! Sem a Cláudia, como ele queria!”, reforçando a tese de que o crime foi praticado por motivo torpe.
O promotor encerrou sua fala às 17h23.
Às 17h44, a advogada de defesa de Dilomar Batista, feita pelo advogado Thiago Tezani, iniciou sua tréplica, afirmando que seu cliente agiu sob ameaça e foi coagido por Roberto, a quem conhecia desde a infância. A defesa descreveu Roberto como um psicopata, manipulador, egoísta e egocêntrico. Segundo ela, Dilomar é pai de família, cristão, foi demitido da APAE, mas está atualmente empregado. Admitiu que ele teve uma conduta errada, mas ressaltou que hoje está arrependido.
A advogada reforçou que Roberto usava sua posição hierárquica, influência e poder para manipular e comandar os outros, afirmando que muitos tinham medo dele. Após a prisão de Roberto, Dilomar teria se sentido aliviado e decidiu mudar seu depoimento para colaborar com a polícia.
Em tom enfático, a defesa afirmou: “Dilomar foi mais uma vítima do Roberto” e destacou que ele foi traído por um amigo. A tréplica da defesa de Dilomar foi considerada fraca em conteúdo, durando cerca de 15 minutos.
Às 18h10, o advogado Leandro Pistelli iniciou a defesa de Roberto, questionando o laudo de localização do celular e sugerindo divergências nas informações apresentadas pelo promotor Alex. Pistelli argumentou que a presença de sangue no carro não comprova que Cláudia tenha morrido ali, e que em nenhum momento foi comprovado que os ossos encontrados são humanos.
Segundo o advogado, a acusação baseia-se em interpretações sem provas concretas. Ele afirmou: “Sangue não comprova a morte de ninguém”, e rebateu a defesa de Dilomar, afirmando que seu objetivo não era defender o réu, mas sim acusar Roberto.
Em outro ponto da fala, Pistelli contestou a acusação de que Roberto teria usado quatro veículos no dia da morte de Cláudia, dizendo que só havia comprovação de que ele esteve na Spin. A defesa então passou a explorar inconsistências nas acusações para tentar descredibilizar a tese da promotoria.
Num momento de impacto, o advogado declarou: “A Cláudia tá viva!”, questionando novamente a ausência de materialidade no caso. Enquanto isso, Roberto chorou pela primeira vez durante o julgamento, enquanto o advogado pedia ao júri que julgasse com base na justiça e rejeitasse o reconhecimento da materialidade do crime.
Outro advogado de defesa, Renato, também teve direito à palavra. Ele voltou a mencionar a perícia particular contratada por Roberto e afirmou que não havia resquícios suficientes de sangue que indicassem a ocorrência de um disparo dentro do carro. Renato exibiu uma ilustração demonstrando como um projétil perfuraria a pele e quais seriam os efeitos esperados em termos de respingos de sangue, sugerindo que os vestígios encontrados não condiziam com esse cenário.
Renato finalizou destacando que a decisão do júri afetaria não apenas Roberto, mas também sua esposa e filhos, apelando para a empatia dos jurados.
Às 19h10, os debates foram oficialmente encerrados.
SENTENÇA
Por volta das 21h30, o juiz Jair Antônio Pena Júnior leu a sentença final dada por júri popular. Roberto Franceschetti Filho foi condenado a 22 anos e 6 meses de prisão, em regime fechado, pelos crimes de homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver e fraude processual. Dilomar Batista foi condenado a 1 ano e 6 meses, em regime aberto, por ocultação de cadáver e fraude processual. Ambos os réus podem recorrer da decisão.